...passou ao lado de uma grande carreira (6)

Foi com tristeza e consternação que li aquele obituário. Morrera o Firmino. O Firmino…Se é possível o Firmino finar-se então eu digo com toda a convicção e certeza: Qualquer um pode morrer um dia. Até eu!!!!

O Firmino era o motorista do 76, o verdadeiro perigo da estrada. Para terem uma noção, no final das viagens com o Firmino ao volante quem ia na frente do autocarro acabava a viagem atrás e quem ia atrás, claro está, acabava muitas vezes a viagem… na estrada porque se mandava da janela em andamento com o pânico.

Mas eu divertia-me muito naquelas viagens, era como jogar ao Twister em que acabávamos todos embrulhados uns com os outros. Foi numa dessas viagens que, sem querer, tirei a virgindade à Rute Cabeças. Ainda me lembro daquela travagem que me mandou para cima dela. Ela mandou um grito que nem vos digo, nem vos conto…e que não me venham dizer que aquele orgasmo foi a fingir, que aqui comigo ninguém finge!!!! Mais…quem finge os orgasmos com a minha mulher sou eu. E sou o que finge melhor diz ela!!!! Os outros não chegam aos meus calcanhares a fingir orgasmos. Quem é o rei? Quem é o rei? Porque se estão a rir? Foi também numa travagem quase tão brusca como aquela que contei que conheci o Osório, ou melhor…acho que foi mais ele que me veio conhecer a mim mas esse é o gajo que nunca vos contarei ao pormenor como conheci.

Lembro-me do autocolante que o Firmino tinha junto ao volante, dizia: “Parar é morrer”…pobre Firmino…agora que falo nisso não me lembro dele ter parado algum dia a sua viatura a não ser quando era para a imobilizar de vez no final do seu turno. Dizia ele que as paragens tinham esse nome “de paragens” porque era onde nós tínhamos de estar parados e atentos para saltar mal o 76 passasse. Era no fundo a primeira prova de fogo para entrar no autocarro do inferno como carinhosamente lhe chamávamos.

A curta viagem do 76 ainda hoje acaba na Cruz Quebrada…tenho para mim que só passou a ser quebrada depois da primeira viagem do Firmino. O Firmino naturalmente nunca progrediu na sua profissão e via com inveja os colegas do 33 a passarem por ele em vários pontos do seu curto trajecto. É que o 33 faz o trajecto de sonho dos motoristas…muito mais kms, muito mais responsabilidades, muito mais dinheiro no final do mês. A carreira que o 33 faz é gigantesca e muitos motoristas como era o caso do Firmino “apanham” pequenos troços paralelos à mesma. É por isso que me irei lembrar para sempre do Firmino como o gajo que passou ao lado de uma grande carreira.

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